Cresce o índice de matrículas realizadas por pessoas com deficiência no ensino superior
- Kelly Carolina, Stephanei Xavier e Queren Hapuque
- 14 de nov. de 2017
- 4 min de leitura
O estudante Álvaro Oliveira Menacho, de 23 anos, é um dos 45,6 milhões de brasileiros que possui algum tipo de deficiência no país. Embora tenha nascido com uma deformação na coluna, ele nunca usou a deficiência como barreira para ingressar em uma faculdade. Em busca de um diploma e futuramente um reconhecimento profissional, ele escolheu o curso de Publicidade e Propaganda da Universidade de Cuiabá (Unic) e já está no último ano. Álvaro nasceu em Cuiabá, no Estado de Mato Grosso, ele é cadeirante por causa de uma malformação congênita que acontece na coluna vertebral, desenvolvida nas primeiras semanas de gravidez. A patologia conhecida popularmente como espinha Bífida possui três variações, como a oculta (quando não há lesão nas meninges e medula, só na vértebra), Meningocele (que pode causar pouco comprometimento das funções neurológicas) e no caso dele a Mielomeningocele (mais grave e mais comum).

Ele conta que após terminar o ensino médio quis logo ingressar na universidade e se deparou com algumas situações difíceis, mas que nunca desistiu do seu sonho. “Quando entrei na faculdade procurei a AMDE para conseguir o meio de transporte chamado “Buscar” para me levar, mas só depois de dois anos andando de coletivo tive retorno, mesmo assim nunca desanimei”, afirma.
Ele também relata que a acessibilidade nas instituições de ensino superior ainda é falha. “Outra vez foi o elevador da universidade que inundou por causa da chuva, e sem rampa no segundo andar onde eu estava, tive que ser carregado por um segurança até a saída”, relembra o estudante. Além de estudar, Álvaro realiza um trabalho na Associação de Espinha Bífida de Mato Grosso. Como voluntário, conforme ele, desde os 13 anos estava como associado junto a sua mãe que também é voluntaria. Quando completou a maior idade se tornou Conselheiro Fiscal da Associação com o compromisso de fiscalizar os gastos da entidade. Atualmente Álvaro faz estágio na Assessoria de Comunicação da Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social (Setas). Álvaro é apenas mais um exemplo do que vem ocorrendo em todo o Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do ano de 2004 e 2014 o índice de matrículas realizadas no ensino superior aumentaram 518,66% representando 0,42% de pessoas ingressadas nas instituições.
De acordo com Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil ao todo são 45,6 milhões de pessoas com deficiência. Em caso de pessoas com deficiência motora como o estudante Álvaro os dados apontam para 13 milhões.

O Vice Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais, advogado Carlinhos Teles, também é cadeirante como o Álvaro. Durante a sua entrevista ele conta que em sua trajetória como acadêmico as dificuldades em relação à acessibilidade na universidade eram maiores. “Eu passei anos fazendo faculdade na Unic sem poder acessar a biblioteca, por que na época, não tínhamos internet, computador, e o acesso era por de graus. Somente com muita luta conseguimos a instalação do elevador que hoje auxilia todos que tem deficiência”, lembrou o advogado.
Durante a entrevista, Teles também ressaltou a importância da conscientização dos direitos e o motivo do aumento de pessoas com deficiências ingressadas nas universidades nos últimos anos. “As pessoas começaram a se conscientizar sobre os seus direitos por meio de orientações de suas associações e institutos. A oportunidade é a melhor palavra para descrever esse aumento significativo”, destacou.
Teles também é Coordenador do Procon na Assembleia Legislativa, membro da Comissão de Defesa das Pessoas com Deficiência da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Mato Grosso e do Conselho Estadual de Defesa das Pessoas com Deficiência (Conede). Confira sobre as lutas do Carlinhos Teles sobre acessibilidade .
A Universidade de Cuiabá (Unic) possui em sua estrutura uma unidade específica para atender os estudantes com deficiência, o Núcleo de Educação Especial Inclusiva (NUEEI) que é vinculado à diretoria Acadêmica de EAD e a VP Acadêmica da Kroton, que é responsável pelas ações de inclusão nas unidades presenciais e pelo apoio presencial.
O Professor e Coordenador de Comunicação, André Galvan, destaca que o Núcleo, trabalha basicamente para atender as necessidades dos alunos, capacitar profissionais e melhorar a acessibilidade da instituição. “Nós temos o NUEEI, ele é um núcleo que atende tanto as pessoas com deficiências físicas quanto deficiência em relação a déficit de atenção e outras dificuldades de aprendizagem, é por meio dele que as famílias realizam o encaminhamento.

O coordenador também explica que o NUEEI é um núcleo específico onde todos os professores são capacitados para no primeiro momento identificar o aluno que tem algum tipo de deficiência e assim atender as suas necessidades.
Políticas de Inclusão Segundo o Ministério da Educação (MEC), desde 2008 foi instituída a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Seu objetivo é promover a transformação dos atuais sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos. Tem como estratégias a garantia do acesso e a permanência dos estudantes com deficiência, por meio de ações que visem à eliminação de barreiras físicas, pedagógicas e na comunicação, assim como nos ambientes, tendo como foco a promoção da autonomia e a igualdade de direitos dos alunos com deficiência.
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